29 abril 2007

pensando_em_alguém

enquanto você está lendo isso
lembre-se que tem alguém
pensando em você.
e enquanto você pensa
que pensam em você,
você com certeza pensa em alguém.
e enquanto você pensa
em alguém, esse
alguém pensa em outra pessoa.
só que essa outra
pessoa também está
pensando em outra
pessoa.
mas não se importe,
o melhor da vida
é saber que agora
concerteza, tem alguém
pensando em você.
mesmo quando você não
pensa em ninguém.

28 abril 2007

as_negligências_atuais

cuidado,
mantenha a porta fechada, então
cuidado,
trave as grades da janela, e fique
esperto,
senão o tiro acerta, então
cuidado,
não fale com nenhum estranho.
Cuidado,
com os cotovelos da mesa, retire
o boné para comer, então
cuidado,
mantenha a educação.
decifre,
o que é indecifrável, e lute
pra parecer natural
adapte,
ao biótipo dos outros, e ouça
o que querem fazer ouvir.
se iluda,
com todos os deputados, não faça
o que você quer fazer.
aplique,
tudo que aprendeu na escola, e
se irrite,
com todos originais.
imite,
a roupa que tá na moda, e
compre,
o que parece legal.
cuidado,
não como de boca aberta.
cuidado,
traindo que se descobre.
descole,
amor hoje não existe.
acerte,
oportunismo é o maior.
cuidado,
malhe pra ficar sarado, danado!
pegue um bom bronzeado.
cuidado,
senão excluem você, por isso
saia,
pros lugares mais transados, e
transe,
o mais cedo que puder.
dê bola,
pra mulherada na rua, e
sente,
com as pernas bem mais abertas.
não se acanhe,
dê entrevista pro jornal.
abaixe,
a calça e mostre a cueca, e
compre,
todas revistas pornôs.
cuidado,
vá pra balada de noite.
cuidado,
de noite é que o ladrão sai.
odeie,
os pobres e os favelados.
desista
enquanto ainda é tempo, porque
hoje,
não se pode nada.
cuidado!
senão vão pegar você,
cuidado! ... cuidado ...

dos_tempos

cada segundo é como um passo
cada degrau é como um tempo
cada silêncio é um presente
que a vida guarda a entregá-lo

catando os passos vou vivendo
contando os tempos e teus
pecados. Segundos passam,
os dias viram, desviram tempos
todos preocupam, com seus estados

epicamente o tempo corre
e sua importância dissolvendo
nascem uns e, como alguns morrem
vivendo a vida eu vou vivendo

o tempo muda, o tempo passa
o penso muda como uma estrada
evoluindo, o mundo gira
sinais girando, o que não finda

andando em frente, compreendendo
e os velhos mundos, que vão
morrendo. E mesmo assim, o
tudo passa, como um minuto
que não para

26 abril 2007

um_segredo

está segredado, nos confins das disformes fases
está segredado,
são somáticas, ávidas, das nossas peculiaridades
e está segredado.
nossas arestas, e mesmo as divergências,
analogias de situações, torpes controvérsias,
continuando segredado.
está num doce desentendimento, ou
nos enfadonhos e trôpegos silêncios,
mostra-se nos mais forçados sorrisos,
nas trêmulas palavras de um diálogo
importantes, ausentes e astutas. segredos...
insinuando-se segredadamente.
está nas despedidas, nas últimas chegadas,
nas recentes chamadas, está tenro,
está solto, está dentro, está estando,
está segredado,
conta de conversas, consta em nossas testas
em toques ou na falta deles,
está em nossos dias,
em tudo que vivemos,
está segredado, um segredo nosso,
está segredado...

_________________________________
(seria_fácil_falar
(de_uma_pessoa_qualquer
(como_não_é_dessa_pessoa
(que_eu_tô_falando
(complica_um_poko_,_
(transpassando_essa_complicação
(pro_texto.
(complicado_,_mas_todo_seu
(à_sol)

_________________________________

18 abril 2007

como_vivo

Tristeza é cisma
Da que facina
Encanta o ego
E o determina

Amor é rima
Conversa é prosa
Canção purina
Cheiro de rosa

O céu é o tom
Mar o espelho
O som tão bom
Quente, vermelho

Problema é som
Poesia é gesto
E assim termino
Meu manifesto.

17 abril 2007

o_ainda_que_se_foi

o cheiro de dentro dos livros
guardados naquela estante
acendiam o desejo arduamente
guardado naquela memória

o instante do mágico momento
retundantemente visto
revisto, revistado aglomerado
ainda volta naquela mente

e quando "a real" volta, os rios
novamente se cruzam, as folhas
novamente caem, saem, as gotas
novamente pingam,

os livros, os cheiros, desenhos
memórias, momentos, mente,
caem, saem, pingam
findam-se, as canções do ser

15 abril 2007

insígnia

(sinônimo_de_um_vazio
(a_pouco_completado
(à_quem_me_faz_sentir_bem
(à_quem_me_deixa_sem
(nada_pensar_
(amiga_amor_luiza)


somos nomes, corpos
folhas que cortam
sopros que invadem janelas
dias que passam nublados
somos verbo

eu sou a insígnia
de alguma existência
que sente compreender
por não ter sido compreendido
sou o afago que se revela
sou o contato que não sustenta

você, agora, é minha poesia
e eu seu ameno pra sempre
que a propósito, ainda não existe
mas que já se acaba
sendo sempre, e assim...

seria simples e trôpego
meus vícios e teus gestos
ficaria eternamente findo
teus acordes e meus versos
como num pra sempre recomeçar
meu caminho e teus passos
seria simples

incógnitas que revelam meus segredos
eu sou a infância que esconde o preparo dos erros

no entanto, agora
somos mais que verbos
somos solo, somos fértil
viramos enigma de nós mesmos
somos essência

porque pra sempre
seria sempre assim
um dia escuro
num profundo silêncio
desse grande vazio
dentro de mim

Suplício_à_rima

Das rimas que me faltam nada mais me resta
De tudo que eu já vi e agora não me espanta
Das cores que eu pensei e agora são tão negras
Do escuro e do vazio dentro desse instante
Tantas foram as palavras ditas
Poucas as ações sofridas
De palavras que agora me restam
Poucas, torpes e sem rimas.

fragmento_sois_dois

Eu queria só mais um minuto
E num minuto nada me faltaria
De os detalhes e de os instantes
E da cor tórrida que ostentaria
Enegrecidos tons já ofuscantes
E da cortina que se fecharia
(De Um Ultimo Instante, O Fim)

Meu espelho não mais é o mesmo
Não mais aparenta minhas faces
Não mais me confia
Não me põe risos nem me entristece
Nem mais reflete o que eu queria
(Anomalias de Um Dia Comum)

sonteto_do_almejo_e_da_cura

Desejo que transpassa a loucura
Como um toque ainda não surgido
Uma palavra até então não dita
A revolta em cena aparecida

Da espera que não se consuma
Ao que não me influi, nada mal
Faz-me ser o que não tinha sido
Depois retornando, como em carnaval

Tendo a primavera ainda não chegada
Todo meu desejo, e toda minha cura
Propiciando a cria da minha loucura

Do desejo à minha espera
E de todo vento frio
Dessa nobre e almejada primavera

14 abril 2007

todas_as_coisas_de_todos_os_mundos

Dentre as cores desse mundo apático
E as arestas dos sonhos perfeitos
Encontra-se a mais bela das farsas
Das idéias de contos desfeitos

E como os dias me parecem longos
E as noites não passam e não se desfecham
As idéias vão e se retornam fracas
Pelas forças e os lados negros

Como o mundo se tranca e protege
Os tesouros de nenhum valor
O que me resta são os versos
Tênros, que me acolhem em todo seu calor.

e_as_portas

E foi aí que aquela porta se abriu
e nesse aí, que alguém me viu
E num esforço memorável
E me pediu, e então saiu.

E então aquela porta fechou
E aquele alguém eu nunca mais vi
E quando eu dei por conta de mim.
E então pensei que o mundo acabou.

E passou o dia e noite virou
E quase o outro dia raiou
E certo que eu então percebi
É uma desilusão que vivi.

E então tratei de viver outra vez
E nem me importei, nem me liguei
E os dias passaram, eu sei
E toda essa dor eu curei

E quando destraído eu estava
E num segundo me liguei
E a porta se fechou de novo
E o tempo passou, e eu curei.

13 abril 2007

intermináveis segundos_crônica

ela se afastava apreensiva, tentava não ultrapassar suas
expectativas, nem tirar conclusões precipitadas. ela tentava.
agora ela corria, apesar de que sentia-se tão estável como
uma rocha, aos que a viam, era uma mulher comum, parada, "será?"
ela pensava.
seria ela mesma se não estivesse ali, olhando, mas... ela
estava? não estivera correndo? afastando-se?
mantivera-se pensando... ou não? parecia tudo agora muito
confuso, suas partes de antes, que de tão estáveis harmonizavam-na,
agora oscilavam como papéis sob o efeito do vento, embaralhando-a.
tudo muito confuso, demasiado confuso.
dúvidas surgiam, inundavam-na, deveria?... não deveria?
tratou de optar por se aquietar, reavaliando-a.
acabou percebendo que tudo aquilo não passara de um mísero
segundo tedioso no qual passara em frente a vitrine da confeitaria.
ela entrou, e não resistiu, comprou o doce. quebrou o
regime.

12 abril 2007

memórias, histórias...


das singelas palavras que se costuram
às memórias torpes de casos vividos
no qual aplico-lhes enredos trôpegos
tornando-os menos amenos e mais bonitos

apego-me enquanto os construo
sabendo, aliás, aplicar parcimônia
inspiro-me e invento e levanto contornos
e depois que os completo, findam em abandono

afeto-me aos que os lêem e gostam
e espero enquanto não vem o próximo
então lembro-me de mais uma torpe história
e ponho-me a aplicar-lhe um enredo
para que o tempo não me aplique demora.