03 julho 2008

[ensaio][lá_de_dentro_pra_fora]

































[mais_uma_vez_Ilhéus_do_Prata]

eu_ainda_amo_você

Eu ainda amo você! Ainda amo... – repetia ele – ela ainda não fazia idéia do que isso poderia significar, nunca o havia dito, de todo modo nunca havia mentido embora ele já tivesse certeza de que ela também o amava, ou simplesmente amara, de forma que nenhum deles ao certo sabia mais o que acontecia.

Tereza, menina bonita, tranqüila, educada e filha de rosa, mulher calma, sensível e destemida, criara a filha sozinha, mulher abandonada pelo marido e que apesar de sua doce e tão benevolente aparência, carregava dentro das entranhas de si uma dor imensa, de perda, de ódio, de amargura, no entanto dessa sua parte renegada e inibida, que em nada influi na história de Tereza, poucos sabiam e menos ainda o comentavam. Tereza, crescera num conto de fadas, até o dia em que sua mãe a deixara, a ela e uma casa e uma vida e toda uma trajetória, Rosa morrera, Tereza havia vivido, e agora, sozinha, já que Rosa era a única pessoa a quem Tereza podia contar com ajuda. Eram 18 anos vividos de Tereza, desses 18 todos foram circundados pela presença da mãe e agora Tereza estava sozinha, Tereza e sua casa e a falta de sua mãe.

Plínio, nascera no mundo, nos braços cansados de uma parteira descente, crescera no mundo, nas vielas e os cantos da vida contente, Plínio era forte, um menino bonito, um rapaz elegante e um homem íntimo, Plínio nascera num dia, mas fora criado em outro, fora criado quando tinha seus 20 anos completos e uns meses de sobra, quando nascera havia perdido a mãe, na qual nunca havia posto os olhos, logo depois do ganho da vida e da perda da mãe, perdera também o pai – que fugiu sem dar recados – criado pelas sobras paralelas de família, passando de casa em casa, na qual a nenhuma delas pertencia. Plínio tinha agora 20 anos, de garoto reprimido a um belo e atraente homem, de passos macios e ossos firmes nos quais juntos com seu ‘flair’ nocivo e conquistante permeavam sua pureza.

Tereza e Plínio, ele, nascido há muito e criado quando a conhecera, ela, que de abandonada moça passou a mulher em leito quando o admitira. Plínio era um entregador, Tereza uma de suas clientes, após um tempo eram juntos os dois que viviam, e era uma vida boa a que levavam, sem muitos custos e nem prejuízos, amavam-se, pelo menos acreditava-se que sim, mas amavam-se, confusamente, mas de verdade.

Más-linguas dizendo que plínio engraçando-se com outra cliente havia de ganhar um filho, no qual Tereza não podia dar-lhe pois era estéril, ele negava, pessoas afirmavam, e Tereza se dividia... ele dizia: Eu ainda amo você! Ainda amo... – continuava repetindo – mas agora ela sabia o que acontecia, e sabia do que ele dizia, não era só de negar, pois ele não mais se importava com isso, ele dizia de amor, e de amar antes de tudo. Ele repetia ainda: Amo você, ainda amo... – mas agora ela sabia, e ele também. Mais alguns meses pra frente estarão discutindo por razões analógicas, estarão bem em seguida, novamente.

Mais alguns anos pela frente estará Tereza novamente sozinha, e Plínio com sua outra mulher, não uma cliente, pois sempre fora fiel a Tereza, mas sim a uma mulher a quem pudera dar a ele um filho, dera uma filha, contente ele estava da mesma maneira. Mas ele ainda amava Tereza, e Tereza ainda o amava, mas agora não sabia mais disso, Tereza agora está morta.