19 agosto 2007


Hoje o sol nasceu como todos os outros dias
E amanha certamente nascerá como está hoje
Minha emoção me estima a vê-lo com mais brilho
Minha canção faz querer vê-lo a noite

Minha alma se faz de notas e canto
E por mais sons implora o meu amanhecer
O canto se faz presente em meu descanso
O som se torna vivo em meu anoitecer

Andei sozinho na noite da rua
Sem saber qual era o sentido de fazê-lo mais lentamente
Segui em frente e reto e ao léu e inconstante
Sem viver a escolher intenso a cada instante

Vivi catando as sobras de meus dons perdidos
Sem saber a hora que devia parar
Sofri tentando achar os meus sentidos
Sem saber a hora de chegar

Por mais causa a minha existência insiste
Por mais vida a minha carne então implora
Andei sozinho na rua da noite
E o final do caminho não mais se demora

Desde um dia que se abre claro
Ao romper silencioso de uma noite mansa
Escolhas, sentidos,
Minhas direções se distraem e me desmantelam
Minhas precipitações me tiram o norte
Desde o banido grito que não ecoa
À lágrima firme e doce que não me escoa
Memórias, grunhidos,
Minhas terminações não mais se transferem
Tiram-me a atenção de onde me mantinha distante
Minhas locomoções se contorcem em caminhos confrontantes
E me levam à lugares ínfimos e adotantes
Sonhos, afagos,
Deliro imagens densas e libertinas
Caminho em hipotéticas correntes fluentes em meus destroços
Minhas insígnias me remetem a visões de tirocínio
Fui colocado em indiscretos vãos metodológicos
Ar, mistério,
A vida num livro de capa dura e costuras mofadas
Entre e constante na passagem do tempo oscilante
Meus traços os fazem com forma, e de um todo ausentes
Por mais vida o viver grifa nos meus sonhos