02 junho 2007

maria_(de_retoques_à_falta_de_sorte)

Das faxinas de retoques e tristezas, Maria agora não levará de muito o nada, tem-se visto em estado de acudida, daí que pôs-se a pensar em sua vida.
Nascia a pobre menina pelada, careca e toda desdentada, completamente entontecida e estropiada, ganhava o mundo mais uma das suas pequenas, que no correr dos tempos passaria de menina à mulher calada.
Brincava Maria entre seus afazeres, já pequena tinha o seu atribuído, ajudar a mãe, auxiliar na comida dos meninos, na roupa que tinha de ser lavada, e na comida que tinha de ser servida.
Crescia Maria em sua terra pobre, sem pão, nem roupa para que lhe caísse bem ou ao menos pra que lhe servisse, seguia Maria num sofrimento amargurado, com seu angu queimado e seu tocinho gordo... Crescia Maria sonhadora, sem estudo e sem nenhuma instrução, crescia a menina que o mundo um dia diria não.
Maria de falar ligeiro, Maria de nada perfumada, de um sonho que vira pesadelo, Maria viu-se indo para a grande cidade. Ela ainda uma menina moça, ele o patrão, dono da casa. Num instante e de um vacilo ligeiro, Maria então engravidara.
Retirada da casa e sem ter nenhum dinheiro, Maria expulsa de seu ventre o filho avulso, e segue a vida casta e sem recursos, por um caminho curvo e sem tributos.
Maria vira faxineira, prostituta e uma faz-tudo, trabalha dia e noite, sem ter ao menos um motivo, nem sequer um objetivo. Passados os tempos dos duros e nada animados anos, Maria encontra um companheiro, que é servente de pedreiro, proprietário de um barraco na encosta do morro, Maria continua então no seu caminho torto.
Maria que gosta de novela das oito, Maria, que em toda sua vida, pencada de anos, nunca leu um livro, Maria que trabalha e acorda cedo, Maria, de uma história mais que comum, de novelas, da falta de livros, da vida sofrida e de segredos para os filhos.
Maria que vê o jornal nacional, Maria que toma coca-cola, Maria de retoques de costuras, Maria das faxinas obrigadas.
O mundo não de se deu com Maria. Agora da sua partida o mundo se encarrega, de uma vida que não teve muita sorte, agora o que aguarda Maria é o presente da vida... a morte.