27 julho 2008

na_coxa_esquerda

Eu desenhava nas coxas
E a cor da caneta se espalhava
Desprendiam-se palavras no canto
Desvencilhavam-se instantes risonhos
A linha havia, aparecia, sumia de molho
E foi num dia distante
Dançavam lindos os pisantes
Podia-se ver lá nos mirantes
Dons insuportavelmente inconstantes
E eu bordava nas bordas
E as contas tantas
Pelas linhas tontas
Traços feitos tortos
Cores bem medonhas
Letras contorcidas
Desenhos distantes
No mirante da minha perna esquerda
Quer saber? Então encontre...

04 julho 2008

[conto][(cacofonia [aqui] pode)]


E quando o tudo apronta
Sempre há conto e nada conto
E, no entanto tudo estima
Nem sempre há rima
E sempre há tanto
E nada feito e quero tanto,
Eu quero rima

Mas me acostumo a não ter tudo
E sempre apronto, é mais um conto,
É tanto conto, é tanta vida, é tanta estima
E quando o tudo novamente se diverte
E oferece e se despede e não consegue
Se dispor no conto e, no entanto, há entretanto,
Há sobre o tanto, é muito tanto

Tudo inerte me diverte,
Invento um conto e, no entanto,
Há tanto espanto
Eu paro tudo e, no entanto eu digo o conto,
Espirro o conto, cuspo o conto,
Avisto o conto e acabo o conto

E também os mictórios

Azulejos e lavatórios
Dos quais sabem de tanto
Enquanto os dias passam

Podem ser cinco, duas, três
Quantas forem ou quantos quiserem
Esfregam-se entre beijos e língua e mãos
Esfregam-se entre os lavatórios
Embaçam os azulejos
Contorcem-se em sua libido
De sons tão bambos
E de dias tão calmos
A pele, contato, atrito
E são vários, e ao mesmo tempo
E tão diferentes
Inerentes na situação
E são coxas, calafrios
Tantos

E enquanto os dias passam
Mais um tanto ficam sabendo
Azulejos e lavatórios

apenas um

Eram suas cores tortas
Em dores de atormento
Cabia-me de costas
E era tudo em volta
Era tudo envolto nas horas
(as minhas horas, nem tão pontuais)
Eram segredos
Que mesmo tapados pelo motor do mundo
Faziam-me saber de tudo
E não mais eram segredos
E tinha as cores tortas pelas horas
E o lugar que me comportava
Sendo mesmo de costas
Fez-me perceber o segredo
Sujo, ameno e aprontado para festa
E éramos um
Eu, e o mundo
(e as horas)

03 julho 2008

[ensaio][lá_de_dentro_pra_fora]

































[mais_uma_vez_Ilhéus_do_Prata]

eu_ainda_amo_você

Eu ainda amo você! Ainda amo... – repetia ele – ela ainda não fazia idéia do que isso poderia significar, nunca o havia dito, de todo modo nunca havia mentido embora ele já tivesse certeza de que ela também o amava, ou simplesmente amara, de forma que nenhum deles ao certo sabia mais o que acontecia.

Tereza, menina bonita, tranqüila, educada e filha de rosa, mulher calma, sensível e destemida, criara a filha sozinha, mulher abandonada pelo marido e que apesar de sua doce e tão benevolente aparência, carregava dentro das entranhas de si uma dor imensa, de perda, de ódio, de amargura, no entanto dessa sua parte renegada e inibida, que em nada influi na história de Tereza, poucos sabiam e menos ainda o comentavam. Tereza, crescera num conto de fadas, até o dia em que sua mãe a deixara, a ela e uma casa e uma vida e toda uma trajetória, Rosa morrera, Tereza havia vivido, e agora, sozinha, já que Rosa era a única pessoa a quem Tereza podia contar com ajuda. Eram 18 anos vividos de Tereza, desses 18 todos foram circundados pela presença da mãe e agora Tereza estava sozinha, Tereza e sua casa e a falta de sua mãe.

Plínio, nascera no mundo, nos braços cansados de uma parteira descente, crescera no mundo, nas vielas e os cantos da vida contente, Plínio era forte, um menino bonito, um rapaz elegante e um homem íntimo, Plínio nascera num dia, mas fora criado em outro, fora criado quando tinha seus 20 anos completos e uns meses de sobra, quando nascera havia perdido a mãe, na qual nunca havia posto os olhos, logo depois do ganho da vida e da perda da mãe, perdera também o pai – que fugiu sem dar recados – criado pelas sobras paralelas de família, passando de casa em casa, na qual a nenhuma delas pertencia. Plínio tinha agora 20 anos, de garoto reprimido a um belo e atraente homem, de passos macios e ossos firmes nos quais juntos com seu ‘flair’ nocivo e conquistante permeavam sua pureza.

Tereza e Plínio, ele, nascido há muito e criado quando a conhecera, ela, que de abandonada moça passou a mulher em leito quando o admitira. Plínio era um entregador, Tereza uma de suas clientes, após um tempo eram juntos os dois que viviam, e era uma vida boa a que levavam, sem muitos custos e nem prejuízos, amavam-se, pelo menos acreditava-se que sim, mas amavam-se, confusamente, mas de verdade.

Más-linguas dizendo que plínio engraçando-se com outra cliente havia de ganhar um filho, no qual Tereza não podia dar-lhe pois era estéril, ele negava, pessoas afirmavam, e Tereza se dividia... ele dizia: Eu ainda amo você! Ainda amo... – continuava repetindo – mas agora ela sabia o que acontecia, e sabia do que ele dizia, não era só de negar, pois ele não mais se importava com isso, ele dizia de amor, e de amar antes de tudo. Ele repetia ainda: Amo você, ainda amo... – mas agora ela sabia, e ele também. Mais alguns meses pra frente estarão discutindo por razões analógicas, estarão bem em seguida, novamente.

Mais alguns anos pela frente estará Tereza novamente sozinha, e Plínio com sua outra mulher, não uma cliente, pois sempre fora fiel a Tereza, mas sim a uma mulher a quem pudera dar a ele um filho, dera uma filha, contente ele estava da mesma maneira. Mas ele ainda amava Tereza, e Tereza ainda o amava, mas agora não sabia mais disso, Tereza agora está morta.