29 junho 2007

decadência_(o_dia_que_eu_deixei_minha_prova_em_branco)

Batizado em água limpa sem nunca mais voltar à igreja, hoje eu escrevo pelo motivo de ser a única coisa que me resta saber fazer direito.
Sinto-me como se fosse o ultimo a ser comprado, que no qual nunca fora vendido. O que foi para a ponta de estoque, aquele que já foi, e hoje não é mais querido.
Acho-me sentado em uma mesa, de frente pra uma prova em branco, a primeira que com meu muito espanto, nada dela soube fazer.
Vejo-me fazendo coisas nunca pensadas, ouvindo questões quase a ponta de facas, rabiscando confissões eternas em dunas de areia, lendo para os outros meus segredos nunca publicados, contando os contos de sereias longe de suas praias.
Escrevo por não conseguir manter minha imagem a foco, por não resistir às quedas de meus próprios destroços, por estar mantido pela energia de um futuro utópico, de um solstício apático.
Escrevo por estar íntimo de erros meus, de meus contentos, escrevo por estar no centro da minha própria decadência.

24 junho 2007

pra_ser_franco_(mulher)


Há quem diga que para se dominar o mundo um cérebro e uma vagina são absolutamente suficientes, essas pequenas e tão perspicazes criaturas são mais capazes do que qualquer um poderia imaginar, tentar ou fazer!
A começar pelo poder sobre os homens. Homens, essas criaturas que desfilam imponência e audácia e que se tornam tão obsoletos diante de uma mulher!
Mulheres! Que além de parirem os filhos, fizeram nascer também a elegância, a vaidade e o poder! Fazem nascer poder, nasceram dele! Existem as que estimulam, as que brigam, as que chutam, as que fazem, que se mostram e as que dão.
Dão conselhos, beijos, dão apoio, e dão aquilo também!
Mulheres das quais inspiram poemas, e mulheres que aspiram problemas, mulheres que fogem, que se mostram, mulheres que lutam, que se comportam, mulheres que nutrem, mulheres que transam, mulheres que sabem, mulheres que aprontam.
Mulheres que colocam muitos homens numa fria, que os tiram dela, e mulheres que colocam um homem nas mais quentes, que de tão quentes nem vêm ao caso.
Mulheres que se abraçam, e que se beijam, sem preconceito, mulher de todo jeito. Mulheres, capazes de levantar qualquer homem, levantar o ânimo, o astral, levantar o...
Mulheres carentes, apaixonadas e escandalosas, estudiosas e delicadas, mulheres que gostam de rosas, mulheres que suam, que ganham, mulheres que clamam, mulheres que apanham.

sem_cerimônia

Ele puxa de um lado, e ela grita, realmente ela está nervosa, já que nunca fizera isso antes, claro, ela tinha algum conceito em relação a isso, já pensava como seria, e ficava nervosa.E ele a virava, mais uma vez a puxava, aquilo era estranho, dava muito mais trabalho do que era imaginado, ele começa a se atrapalhar, afinal, não tinha muito tempo, então era melhor correr e terminar aquilo logo.
Ela vivia sonhando com aquele dia, pensava que seria tudo perfeito, e não estava tão ruim assim, porém doía mais do que ela imaginava.
Agora ela estava indo de um lado para o outro com os solavancos e puxões que ele dava. Ela começara a transpirar mais que o normal, seus batimentos começaram a se acelerar, ela sentia que ele também suava muito, estava ofegante, puxando-a, e ela gritando. O ritmo foi ficando mais frenético, cada vez mais, agora já não doía mais como antes, ela experimentava agora uma sensação muito boa, que só aumentava enquanto ele ia de um lado para o outro, seus batimentos agora mais do que nunca estavam acelerados, seu corpo agora estava extasiado com a onda de emoção que percorria-lhe o corpo, que agora já estava bem suado, e sentiu seu coração se encher de alegria, enquanto ele dizia:
- Ficou um arraso! Mas também com um cabeleireiro desse! Agora vamos rápido que agente ainda tem que fazer a maquiagem e colocar o vestido, que já ta quase na hora do casamento!

imagem_poética_I_(mulher)_dois_fragmentos

Das que se pintam às que se escondem,
Dessas muitas ou de uma apenas,
Das maiores às pequeninas, que de tão astutas são gigantes,
Mulheres,
Mulher,
Um bicho que sangra mensalmente, que não se imita,
Que não se inibe,
Mulher que exibe peitos, caras, bocas,
Mulher das mais singelas, serenas e tolas,
Mulheres que são da vida, mulheres que enfrentam a morte,
Mulheres das quais se orgulham,
Mulheres que não têm sorte.
(real_à_controverso)

eu digo, com toda certeza
que elas sabem o q fazem,
realmente sabem o que querem,
e têm consciência de que podem.

elas traçam seus trajetos,
tornando-os seus caminhos,
planejando suas vitórias,
preparando pra que um dia...

possam sonhar, e que, mais que tudo,
possam viver seus sonhos,
mais sonhados que vividos,
e um dia poder, além do mais,
sonhar seus sonhos, e
vê-los um dia, desfazerem-se
ou tornarem realidade
(do_saber_ao_só_viver)

21 junho 2007

dor_(e_o_fim_de_toda_uma_imensidão)

E meu coração dói
Dói como em compasso e ritmo perdidos
Decompões-se em instantes desprendidos
Dói como serenos, ausentes, destemidos
Como recados de um em toda a multidão
Meu coração dói por razões determinadas
E em todas as minhas ações tão impensadas
Meu peito se explode sem nem se mexer
Meu coração pára sem nunca mais se mover
Num pouco instante depois sinto-o morrer
E de meu infinito daí prende-se em se perder
E meu coração já frio decompõe-se ao amanhecer

busca_(três_estrofes_de_um_mesmo_verso)

Tento alcançar proporções inatingíveis
Já fiz mil maneiras de ser um só
Em muitas me arrependi de ser só um
Caminhei pra ficar no mesmo lugar

Olhei discretamente pra que fosse visto
Disse muito não, querendo dizer sim
Consegui façanhas nunca almejadas
Muito e nada fiz pra ser sempre eu, assim

Detestei pessoas feitas pra ganhar amor
Esperei por amar quem nunca nem pude escutar
Quis trilhar veredas sem usar minhas pernas
Já consegui amores, hoje estou a procurar

15 junho 2007

soneto_aos_desenhos_da_rute

Pretensiosos arranjos desprendidos e enérgicos
Contaminam os olhos de uma magia de tão doce e pura alegria
Infantilizadas nas mãos de quem já passou da infância
E muito absortas de um universo solto e de muita magia

Os olhos se prendem em constantes movimentos analíticos
Envolvem num conciso e um paradoxo infinito
Os dogmas de coisas findas que terminam e não se acabam
Em pontos isolados, todos juntos, indecisos

Formas de leves à agudas precisões
Terminam e começam onde não e nunca repõe
E ficam eternas, por entre feitas e não existentes incisões

Eólicas e tempestuosas contraposições
Contadas do que vistas e imaginadas virando invenções
E desvalecem-se, gravando-as e ressurgindo, são tão leves invenções...

10 junho 2007

_luiza_

esconde as minhas veias
chama, que do teu carinho quero me compor
andando os dias, contando estimas
cantando rimas, compondo num país de pétalas a teu favor

vem, me deixa livre, completa os discos
que da tua música quero eu me fazer
prende em teu límpido e amargo céu os meus carinhos
e as minhas vidas se decompondo em teu lento leito de fervor

desfaz meus dias, compõe minhas sinas
destrói as siglas que nos prende então...
me associa, e me derrama, como uma lágrima sem ascensão
me desespera, nos aproxima, e nos separa, a pele a alma

vai, se desintegra, refaz teus dias
sem tua calma e sem o meu pesar
anda, receba as flores... sem suas pétalas
caminha e siga, sem olhar atrás, Luiza...

07 junho 2007

elemento

é de uma beleza simples e rara
como as puras e domadas notas
do dedilhar ao nascer da canção
de um doce e sereno pesar
do orvalho nas flores ao chão
é de um leve e tão pesaroso encontrar
da marca que se deixa e nunca esqueceu
da leveza do rascunho de um desenho
é parte das tantas alegrias que tenho
do sorriso que se vê e cativa
a beleza do astro quando em seu apogeu
é do singelo ver do pôr-do-sol
e a alegria de tê-lo visto todo dia
como os leves toques das folhas ao chão
em um outono fora da sua estação
é um olhar e um verdadeiro sopro
que invadindo e se tomando de sonhos
e de desenhos que passam de rabisco à arte
das notas soltas que viram canção
é o pôr-do-sol que vem seguido da lua
o fim do inverno e a espera do verão
é um enfoque que me mostra elementos
da simbologia envolta ao coração
é da tarde, neblina, é o vento
é desenho, uma doce e bonita canção.


(à_pedido
(e_à_rigor,
(beleza,_simpatia_e_simplicidade,
(elementos_que_fundidos_tornam-se
(de forma_tão_delicada_uma_pessoa_tão_linda,
(corrido,_mas_feito_com_carinho
(à_carol)

06 junho 2007

um_dia_de_todos_os_dias_

se os meus dias poucos fundem-se em completo
apático fico, louco, um pouco inverso
se meus sonhos se tornam confusos enquanto os teço
atônito morro, e nasço... amanheço cantando.

fragmento

Ora, minha apatia não me vangloria,
Apenas atinge a quem me alcançaria.
Cataclísmicas arestas que transpõe meu ego,
Demonstram os hífens que ligam meus elos.
De alguma forma o elo nasce e põe,
De forma alguma o elo se opõe.
(descrição)

(quando coloco fragmento,
(como as vezes sempre aparece um ou outro poema curto com esse nome,
(refiro-me à fragmento de alguns pensamentos que eu consigo transformar
(em palavras, pra que possam ou naum ser entendidos)

04 junho 2007

atrás

de meu pesar e de tantas mentiras
da farsa que um dia eu jurei não viver
de o amor que eu jurei nunca ter
das frases que nunca julguei que ia dizer
e de tombos dos quais já sabia que iam ocorrer

secretas cantigas embalam minhas rubras caminhadas
que mesmo sendo curtas, os sons me cortam as veias
me fazem esquecer do dia em que eu não soube o que queria
me sopram insondáveis partes que eu ainda não permitia
me moldavam como quisessem que eu seria

das fogueiras que eu imaginei e nunca existiram
dos lugares cheios de rostos vazios que eu procurei sozinho
de tantas palavras que eu busquei e em poucas encontrei abrigo
dos dias quentes que se aproximavam e passavam tardios
e de outros dias cheios de um imenso e cru vazio

fiquei atento procurando flores sem ter primavera
ouvindo os sons que um surdo em minha ouvia
almejando ver o que minha retina não podia
tentando terminar palavras que eu nunca tivera
correndo pra parar enquanto ainda me atrevia

sendo que tantas coisas por mim foram feitas
das quais são poucas as que verdadeiras
me fizeram acreditar que uma dia valeria a pena
forçar os olhos para ver o que eu não podia
e ir por um caminho novo e pleno a cada dia

03 junho 2007

odisséia_esmezurada


De enfadonhos que tornaram-se Fulano, Ciclano e Beltrano, por um orgulho de torno turvo e de um final não tão animado.
Era Fulano no seu lugar, que em circunstancias nem por ele executadas (e nem conscientes e almejadas) ali estava, e estava num querer bem querendo Ciclano, num querer de todo solitário e muito unilateral, já que Ciclano na verdade, (e bem verdade) queria era Beltrano, que... Então voltando voltando-se à dada seqüência da torpe e verdadeira história...
Ciclano estando em seu lugar, veio ter-lhe Fulano, que lhe queria, Ciclano não querendo Fulano e sim querendo Beltrano, dispensa o Fulano para haver-se com Beltrano, e de todo esse haver-se e dispensar-se, na confusão dessa devassa história Beltrano encontra-se em cena gora...
Beltrano agora em seu lugar, querido por Ciclano (que é querido por Fulano) num derradeiro e solitário cantarolar vê-se querendo (muito e querendo muito) o nosso dado Fulano, que por sinal, acaso ou por descuido, mostra-se querendo nosso querido Ciclano, que numa tristeza esmezurada, não é querido por Beltrano (a quem quer tão bem, assim estão estando).
Num soberbo desfechar de tão controverso conto, há de se haver resposta pra tão desdomada e curva história, de tão mal-grado que foi narrada, que nem mais o autor a comemora.
A Quadrilha de um Mestre imitada, a que roubada de outras fontes e então relacionada à peripécia de três jovens que é contada, que mesmo sem ou com final vazio, fica assim mesmo terminada.

02 junho 2007

maria_(de_retoques_à_falta_de_sorte)

Das faxinas de retoques e tristezas, Maria agora não levará de muito o nada, tem-se visto em estado de acudida, daí que pôs-se a pensar em sua vida.
Nascia a pobre menina pelada, careca e toda desdentada, completamente entontecida e estropiada, ganhava o mundo mais uma das suas pequenas, que no correr dos tempos passaria de menina à mulher calada.
Brincava Maria entre seus afazeres, já pequena tinha o seu atribuído, ajudar a mãe, auxiliar na comida dos meninos, na roupa que tinha de ser lavada, e na comida que tinha de ser servida.
Crescia Maria em sua terra pobre, sem pão, nem roupa para que lhe caísse bem ou ao menos pra que lhe servisse, seguia Maria num sofrimento amargurado, com seu angu queimado e seu tocinho gordo... Crescia Maria sonhadora, sem estudo e sem nenhuma instrução, crescia a menina que o mundo um dia diria não.
Maria de falar ligeiro, Maria de nada perfumada, de um sonho que vira pesadelo, Maria viu-se indo para a grande cidade. Ela ainda uma menina moça, ele o patrão, dono da casa. Num instante e de um vacilo ligeiro, Maria então engravidara.
Retirada da casa e sem ter nenhum dinheiro, Maria expulsa de seu ventre o filho avulso, e segue a vida casta e sem recursos, por um caminho curvo e sem tributos.
Maria vira faxineira, prostituta e uma faz-tudo, trabalha dia e noite, sem ter ao menos um motivo, nem sequer um objetivo. Passados os tempos dos duros e nada animados anos, Maria encontra um companheiro, que é servente de pedreiro, proprietário de um barraco na encosta do morro, Maria continua então no seu caminho torto.
Maria que gosta de novela das oito, Maria, que em toda sua vida, pencada de anos, nunca leu um livro, Maria que trabalha e acorda cedo, Maria, de uma história mais que comum, de novelas, da falta de livros, da vida sofrida e de segredos para os filhos.
Maria que vê o jornal nacional, Maria que toma coca-cola, Maria de retoques de costuras, Maria das faxinas obrigadas.
O mundo não de se deu com Maria. Agora da sua partida o mundo se encarrega, de uma vida que não teve muita sorte, agora o que aguarda Maria é o presente da vida... a morte.

01 junho 2007

canções_sem_som_(____)

meus olhos dilatados refletem o que eu não posso ver
mãos atadas em soltas cordas destinam o futuro meu
razões agora, abandonadas nas capas dos livros
minhas lágrimas não molham mais o q que eu procuro
faço cançoes sem som
almas que se fundem sem nenhum motivo
palavras ficam soltas sem motivo algum
faço dança, sem seus movimentos
fabrico almas sem seus corações
letras, minhas, ásperas, imparciais
são culinárias, sem seus condimentos
é corpo, um dom, vestido com a nudez
incompleto,
faço canções sem som algum.